sábado, setembro 17, 2005

carta aberta para a associação "ambientalista" Campo Aberto

Vou falar-vos da vossa luta contra a intervenção na avenida dos aliados, inserida na requalificação que as obras da estação do metro obrigaram fazer. Antes de começar gostaria que fechassem os olhos, respirassem fundo e libertassem o vosso pensamento. Fiquem assim o tempo necessário até conseguirem libertar a mente de todo o tipo de pensamento.
Agora vou começar.
A cidade do Porto é, à semelhança do país a que pertence, rica em atentados ambientais, problemas de gestão urbana, territorial e de espaços naturais. São inúmeros os casos em que a intervenção de ONGs contribui decisivamente para a resolução de alguns desses problemas. Tenho aliás a opinião de que em sociedades fechadas, e mt pouco activas socialmente, como é a nossa, o papel dessas organizações é absolutamente nuclear na defesa do ambiente natural e da coesão ecológica do território.
Aqui na cidade são inúmeros os problemas reais, graves e ainda não resolvidos, que nascem do eterno conflito entre o lucro do curto prazo e o desenvolvimento sustentado. Lembro-vos por exemplo, o problema permanente da falta de tratamento das águas residuais urbanas com que o concelho se depara, ano após ano, mandato após mandato; lembro-vos a total inacçao do poder autárquico na depoluicão das praias da Foz; lembro-vos a inexistência de qualquer tipo de controlo aos escapes das empresas de transportes colectivos que operam na cidade; lembro-vos a impunidade com que se fazem todos os dias descargas de efluentes líquidos industriais nos ribeiros entubados e nos colectores de águas pluviais da cidade; lembro-vos do autêntico atentado ao património arquitectónico da cidade, por parte de empresas imobiliárias q adquirem imóveis com centenas de anos e os deixam desmoronar para poderem construir caixas de habitação sem qualidade.


Todos estes problemas são actuais, graves e precisam da vossa ajuda para serem resolvidos e é por isso que fico perplexo quando vejo uma ONG como a vossa a desperdiçar recursos e energias, numa causa tão idiota como a que dá nome a esta missiva.
Os factos deste pseudo-problema são os seguintes:
Ponto 1- a construção subterrânea da estação do metro obriga a que existam escadas e elevadores de acesso.
Ponto 2- esses acessos têm de ser feitos nos passeios. Ninguém estaria concerteza à espera que se construíssem os acessos no meio da uma placa pedonal rodeada de trânsito automóvel.
Ponto 3- os passeios que existiam não tinham largura suficiente para os dotar dos acessos pelo que houve necessidade de os alargar, retirando 8 metros à placa central ajardinada que existia.
Ponto 4- a menos que vocês estejam a defender a construção de uma faixa de jardim com 2 metros de largura no centro da placa central, e ao longo de toda a avenida, não faz o mínimo sentido querer alterar o projecto.
Ponto 5- a opção de substituir o calcário pelo granito, parece portanto a única reivindicação que vos resta.

Como conclusão do que foi exposto, posso considerar que vocês são neste momento uma ONG que gasta o precioso tempo e recursos que dispõe, a defender as pedras de uma calçada! Ainda por cima numa cidade com tantos problemas verdadeiros por resolver.
Parece-me no mínimo ridícula a vossa posição.
Possivelmente se vocês existissem em 1920 a avenida não sequer existia porque, como sabem, aquele espaço era fisicamente dividido em 2 praças.
A vossa infeliz luta está, para já a ser ganha, uma vez que conseguiram atrasar as obras e a prolongar o transtorno que o estaleiro causa a todos os portuenses. Também conseguiram que a actual equipa autárquica não possa inaugurar eleitoristicamente mais essa obra (seria esse o vosso obscuro desejo?).
De qualquer das maneiras, considero que vocês nesta ocasião não estão a cumprir a razão da vossa existência, foram provavelmente manipulados e estão a causar prejuízos à cidade e às populações a que supostamente devem a vossa existência.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aqui está um dos poucos comentários minimamente documentados e articulados sobre esta questão.