segunda-feira, março 14, 2005

Reforma Energética


A energia de um país é o seu coração. É a bomba que faz movimentar tudo o resto, é ela que permite produzir, que faz transportar produtos e matérias-primas, que dá condições para exportar produtos competitivos.

Paralelamente a estas funções fundamentais para a vida e progresso dos países e como consequência aliás da importância dessas funções, a energia transformou-se ao longo dos anos, no principal factor de instabilidade mundial.

Através da energia e das condições do fornecimento da mesma, sob a forma de petróleo, algumas (poucas) nações controlam o pulsar de quase todos os países do mundo. Os exemplos são imensos e extremamente recentes para perder tempo a descrevê-los, mas o que interessa é perceber que no mundo actual o país que quiser ter, vontade própria na decisão de causas externas, e muitas vezes de questões de política interna, tem de possuir uma posição de total independência face ao chamado “ouro negro”.

Poucos países a têm. Talvez só a Noruega e a França (em parte). Todos os outros podem dividir-se em 3 grupos:

1. Os produtores, que vivem na quase total dependência das exportações do petróleo e com a angustia permanente do seu inevitável esgotamento.

2. Os consumidores, que se encontram de tal forma dependentes do seu fornecimento que desmoronar-se-ão instantâneamente na altura em que o mesmo cesse.

3. Os fornecedores, que são uma espécie de delears sinistros, que por um lado controlam os produtores assegurando-lhes o seu modo de vida comprando-lhes o produto, enquanto através de alianças pseudo-estratégicas com os consumidores lhes garantem o contínuo fornecimento, ao mesmo tempo que vão alimentando cada vez mais respectiva dependência, mantendo-os bem controlados e comportados.

A analogia entre esta divisão e o fenómeno da tóxico-dependência é perfeitamente ajustado.

Portugal vive totalmente no segundo grupo. É aliás um dos mais dependentes em toda a Europa. Vive subjugado pelo rumo que os seus fornecedores (EUA) lhe traçam e não parece ter-se apercebido do perigo que corre nem das oportunidades que estão ao seu alcance se se conseguir libertar deste flagelo.

Actualmente a tecnologia já permite uma série de alternativas ao petróleo. Embora ninguém o queira admitir (porque o fornecedor pode zangar-se) é perfeitamente viável a um país da dimensão de Portugal, usando unicamente os seus recursos sustentáveis produzir pelo menos metade da sua energia. Investindo seriamente nesse rumo em menos de 15 anos podiamos ser completamente independentes das importações de petróleo e de subprodutos de petróleo como fonte de energia.

Em termos de produção de electricidade, o país é extremamente rico em vento, sol e mar.

Em termos florestais basta assistir todos os anos ao triste festival das épocas de incêndios para perceber o potencial energético da sua bio-massa que pode ser utilizada na produção de etanol, substituindo os combustíveis fosseis no abastecimento do sector automóvel[1]. Na Suécia e no Brasil isto já é práctica corrente e os automóveis já utilizam 80% de etanol para 20% de gasolina.

A região de Leiria podia facilmente ser completamente fornecida de electricidade se em vez de poluirem os recursos hídricos de forma tão criminosa, produzissem com os dejectos das suiniculturas o óbvio bio-gás. Na Dinamarca uma das principais fontes de rendimento dos suinicultores é precisamente a venda à rede eléctrica nacional da energia excedentária que eles produzem nas suas explorações.

Todas estas soluções existem e estão testadas. Não são sonhos nem utopias. E todas juntas tornaram

O que falta apenas é DETERMINAÇÃO. É canalizar todos os esforços nesta área.

Certamente que muitas outras soluções podem ser encontradas se o país investir, como será o caso na nova Lusitânia, um mínimo de 1% do PIB todos os anos em Investigação & Desenvolvimento, no sector energético.

O nosso objectivo será a independência energética em 15 anos.

No decurso desse caminho rumo à independência, o investimento realizado pelo estado, irá transformar o país, em lider mundial nas tecnologias energéticas. Passando a exportar soluções e tecnologias para outros lugares do mundo, ao mesmo tempo em que ganhará poder a nível internacional para formar um movimento não alinhado que confrontará as injustiças que neste momento existem nas relações entre estado e entre povos.

A Lusitânia passará a ser um simbolo de independência e exemplo para todo o mundo.

Com essa independência poderemos escolher as melhores empresas nos concursos internacionais sem estar dependentes das suas nacionalidades. Nunca mais iremos comprar submarinos, helicopteros ou espingardas automáticas à loja do tio Sam, a não ser que ele faça o preço mais barato ou que os seus produtos tenham alguma vantagem sobre os outros concorrentes.

Com essa independência podemos enfrentar as multinacionais farmacêuticas e dizer que temos um limite de preço para cada medicamento e que se não quiserem as nossas regras procuraremos quem as aceite.

Com essa independência poderemos tomar a atitude mais correcta no próximo conflito armado que aparecer, sem ter de pedir conselho ao nosso fornecedor e ver se ele concorda com os nossos discursos.

Até agora temos estado inertes à espera que algo aconteça. Temos esbanjado recursos em elefantes brancos e em projectos de investigação predominantemente inuteis ou carreiristas, que apenas permitem ao seu autor subir um degrau na escala docente.

É triste constatar que tendo a maior Zona Económica Exclusiva da Europa, os únicos projectos de investigação em energias alternativas que utilizam o nosso mar, são de estrangeiros.

Passamos o tempo à espera que venham investir cá na terra e enquanto isso vamos gastando o dinheiro em auto-estradas que correm paralelas uma à outra sem que se encontre sentido nesse investimento, em estádios de futebol com 30 mil lugares utilizados por um clube com 1000 sócios, em projectos de TGV Porto-Lisboa que apenas tornará mais rápida a viagem em 15 minutos, em aeroportos novos numa altura em que ninguém sabe se o velho chegou ao limite nem se olha para as soluções que outros países encontraram para o mesmo problema, em novos nós e laços e gravatas de VCI e CREL e CRIL que apenas produzem o efeito de fazer aumentar o volume de trânsito passados uns meses.

Até quando Portugal vai continuar sem rumo e sem esperança?

Até quando se gastará mais dinheiro em cimento do que em pessoas? Dinheiro sem estratégia.

A execução deste, verdadeiramente ambicioso programa, pelo seu carácter universal e de fácil compreensão, pela sua proximidade com as pessoas e com o devido acompanhamento mediático iria incutir à sociedade o sentimento verdadeiro, de que existia finalmente um designio nacional importante e em marcha. Mobilizaria a população para o atingir e traria de volta o optimismo e a esperança a toda a sociedade cívil. Esta medida seria a alavanca que despoletaria uma revolução social no país e abriria oportunidades de investimento nunca antes alcançadas.



[1] A solução para a dramática tradição nacional dos incêndios já está encontrada há muito tempo, e mais uma vez só falta determinnação para a impor no terreno. Os proprietários florestais (80% da floresta nacional é privada) que se mostrassem incapazes ou negligentes para garantir a adequada gestão dos seus espaços, nomeadamente por falta de limpeza periódica dos terrenos, plantações de espécies inadequadas à região ou más práticas agricolas, veriam os seus terrenos expropriados evocando o interesse público vital. Os terrenos uma vez tornados públicos seriam concessionados a uma empresa que garantisse ao país a produção de uma pré-determinada quantidade de bio-combustível a utilizar no sistema rodoviário nacional. A meta seria atingir no curto prazo nos postos de abastecimento uma mistura única de 80% etanol e 20% gasolina.

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