sexta-feira, maio 17, 2013

Too big to fail + too small to count

Portugal inventou uma segunda expressão para completar o anglo-saxónico: too big to fail.
O demasiado grande para falir, que já tivemos oportunidade de experimentar em primeira mão, com o resgate dos criminosos do BPN, foi completado com o: são poucos demais para cortar.
Os pensionistas milionários, são uma minoria tão insignificante, graças a sermos um dos países mais  desiguais na distribuição de riqueza (vejam esta palestra para perceberem bem o que representa ser desigual: http://youtu.be/cZ7LzE3u7Bw), que nunca vale a pena cortar as suas pensões, subvenções e privilégios.
Nos outros sim, teremos "poupanças" extraordinárias que rapidamente equilibrariam as contas, mas nesses não, porque são tão poucos que mesmo que cortássemos 90%, o valor poupado era residual.

Keynes

Tenho andado muito entretido a ler "coisas" sobre o grande economista e guru: J.M. Keynes e tenho vindo a perceber que a lógica do seu pensamento foi sendo subvertida ao longo dos tempos, pela política populista que tomou conta dos países ocidentais.
Grande parte dos que agora se designam "keynesianos" não querem perceber uma série de pressupostos que ele próprio escreveu para enquadrar as famosas medidas de estimulo Estatal à criação de emprego em cenários de recessão económica.
Um dos primeiros desses pressupostos é precisamente o cenário de recessão. A celebre imagem de criar um posto de trabalho para cavar um buraco, e outro para posteriormente o tapar, só pode ser equacionada em cenários de crise económica. O problema é que o calendário eleitoral raramente coincide com o ciclo económico e são mais as vezes em que os governos tomam medidas destas em climas de crescimento, do que em cenários adequados de recessão.
Outro dos erros convenientes de interpretação de Keynes, é que esta imagem, é antes de mais uma mera caricatura, que ele aliás como criatura imensamente egocêntrica adorava criar para, abrilhantar os seus artigos e discursos. O Estado ao seguir o remédio de Keynes, tem obrigatoriamente de escolher investimentos produtivos, ou seja com um inquestionável impacto positivo no futuro económico do país, e não como é habitual, em obras de puro esbanjamento.
Em terceiro lugar, Keynes nunca imaginou que os países que populisticamente deturparam a sua análise, alocassem o dinheiro em investimentos que representassem um encargo extra para o Estado, sob a forma de rendas ou prestações bancárias, porque dessa forma o país que renascesse da crise iria tornar-se um país economicamente mais frágil, porque carregaria mais encargos sobre o seu orçamento.
Por ultimo, Keynes esperava que os países tivessem algum mecanismo que inflacionasse a economia conforme era pratica na sua época. Nunca imaginou que a Europa regressasse a uma versão ainda que light do padrão ouro, que ele tanto lutou para destruir. No cenário do Euro, com uma moeda que não permite inflação, os países que necessitam de investir para criar emprego e assim estimularem a saída da recessão, têm de depender unicamente dos mercados financeiros para emitir dívida pública, e portanto, para além de criar um encargo futuro maior com o serviço dessa dívida, ainda sofrem um agravamento brutal da sua independência face aos humores, nem sempre racionais dos mercados financeiros internacionais. Colocam-se "a jeito" para serem objecto de especulações de vária ordem, conforme foi evidenciado nestes últimos tempos.