quarta-feira, junho 15, 2011

privatizações

Retirar o Estado das empresas tem uma grande vantagem, tem impacto imediato na honestidade e no sentido de serviço público dos governantes que vierem a seguir.
Actualmente diria que 80% dos políticos e aspirantes a políticos, particularmente os jotas, têm em mente um objectivo principal, conseguir entrar no clube dos intocáveis administradores de empresas públicas ou com forte dose de influência do Estado. Ao retirar esse isco nefasto, imediatamente é passado um crivo de credibilidade a essa classe que tanto dela precisa.
Podem dizer os críticos que também se perdem os mais dotados que assim se afastarão ainda mais da vida política.
Respondo já: no ponto em que estamos prefiro um honesto normal do que um aldrabão sobredotado.

terça-feira, junho 14, 2011

a agricultura

De repente entramos numa nova fase de movimento de opinião massificada em que todos os discursos vão parar à ideia de que temos de regressar à agricultura, povoar os campos, e produzir os nossos próprios alimentos para reduzir as importações.
Tudo isto não é novo e acontece em todos os países que atravessam crises do género da nossa, no entanto este raciocínio simplista esbarra de frente com uma outra verdade quase universal, a concorrência de preços é que determina a decisão do consumo. Quer isto dizer que os produtos alimentares estrangeiros que nos entram pela fronteira dentro, não nos são impingidos, entram porque efectivamente são mais baratos e a nossa agricultura desapareceu essencialmente porque não conseguiu competir com esses produtos. Esta é a verdade e embora seja romântica a ideia de que foi a horrível europa que nos obrigou a abandonar a lavoura, a verdade é que foi apenas mais um efeito da globalização.
Se o patriotismo dos portugueses atingir a fasquia em que em pleno hipermercado preferem pagar mais uns euros por um produto português do que por outro mais barato mas importado, então força.
Tudo para a Cova da Beira em força.
Não sendo isto, procurem mas é descobrir porque é que portugal gasta tanto dinheiro a mais que os outros para produzir 1 kg de hortaliça.

quarta-feira, junho 01, 2011

eleições... outra vez

Pois é, país a votos de novo.
E de novo sem a evidência de vermos eleito alguém que tenha o discernimento suficiente para perceber porque é que o país não consegue caminhar para o desenvolvimento sem ser à custa de muletas externas.
Muito se fala em gordura, em cortar despesa ou em aumentar receita mas é tudo vago e sem o sentido de uma verdadeira estratégia política com vista a assegurar um futuro melhor para quem vier a seguir.
Volto a identificar os dois impedimentos fundamentais para Portugal se tornar competitivo:

1. Na década de oitenta, "aconselhados vivamente" pelo FMI, o país privatizou muitos sectores da sua economia mas não cuidou em criar um verdadeiro poder de regulação. Com o passar dos tempos os sectores privatizados tornaram-se, por via de variados mecanismos, (golden shares, participações cruzadas, PARPUBLICA e CGD) em mercados protegidos retirando à economia e do país capacidade de crescimento. Como bem diz Vítor Bento nos seus livros: o sector dos bens não transacionáveis cresceu à custa de transferências de riqueza vindas do sector que produz bens em regime de concorrência (Nacional e Internacional).

2. A desorganização espacial e administrativa do país, implica um custo pesado (mas sempre negligenciado pelos governantes) nos chamados factores de produção. Com o crescimento urbano selvagem que é imagem de marca de quase todo o país, não é apenas a estética que sofre, sofre a economia do país. Quem contabiliza as horas e o combustível que os portugueses queimam no percurso casa-trabalho-casa, por falta de planeamento das cidades e das respectivas redes de transporte público? Todas as infraestruturas económicas baseadas em rede (telecomunicações, energia, transportes, água) têm em Portugal um custo por km, superior aos nossos concorrentes europeus. Enquanto os Espanhóis gastam 2 M euros para instalar a rede de tratamento de águas residuais de uma cidade com 100 mil habitantes, nós temos de gastar 4 M euros devido unicamente à extensão exagerada da mesma. O mesmo raciocínio tem aplicação a outros aspectos da vida social que também se organizam em rede e que têm impactes tremendos nos custos do tão falado Estado Social. A rede de escolas, por exemplo. O Sistema Nacional de Saúde. O Mapa Judiciário.

Quantas vezes já todos nós nos questionamos, será que somos mesmo mais preguiçosos que os Espanhois, ou que os Franceses, ou que os Italianos para estarmos sempre em crise económica? Porque é que este país não é competitivo? Porque é que quase tudo o que produzimos fica mais caro que noutros países mesmo sabendo que os salários são dos mais baixos da europa? Temos férias e feriados a mais? Somos mais corruptos?
Na base da resposta estão estes 2 problemas. Tenho para mim que o segundo tem muito mais peso que o primeiro e se é um facto que já são vários os economistas que atacaram o excesso de liberalismo dos mercados protegidos, em relação à falta de organização do país, ainda nada foi avançado e muito menos corrigido.