sexta-feira, junho 27, 2008

as obras

Foi de repente que comecei a ler e a ouvir determinados cidadãos (alguns com mais responsabilidades socias e políticas do que outros) a insurgirem-se contra o "pacote PS" de obras públicas. Neste pacote incluem-se as inevitáveis auto-estradas, o aeroporto, o TGV e as barragens. Destas 4, as mais citadas são sem dúvida o TGV e as auto-estradas.
Quem fala destas coisas em portugal, fá-lo essencialmente para defender os seus interesses, como é tradição neste país tão sui generis, e se no caso recente do PSD (via a nova chefe, Ferreira Leite) o interesse é meramente o de tentar mostrar diferenças face ao PS, seu irmão gémeo, no caso de outros cidadãos esse interesse é mais escondido. Penso que ninguem duvida que se as posições fossem alternadas (poder-oposição) o discurso de uns e a prática dos outros era exactamente igual, porque entre os dois partidos só mesmo a letra D os separa.

Chamo agora ao texto o senhor engenheiro Fernando Santo, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, que na edição de 26 de Junho 2008 do Diário de Notícias, vem revelar-se contra o investimento em novas estradas e incondicionalmente a favor do investimento na ferrovia.
Ora bem, salvo opinião em contrário o Sr Eng, como Bastonário, defende os interesses da sua classe e creio que é legítimo concluir que ao defende-los, inclui no seu espectro todo o sector essencial à sua subsistência, ou seja o sector das empresas de construção civil e obras públicas.
Podemos então concluir que o sector das obras prefere a ferrovia à rodovia! Esta é, sem dúvida, uma afirmação surpreendente vinda deste sector, e acima de tudo vem confirmar o que escrevi no inicio do post, quando falei no país sui generis em que cada um defende o seu quadrado e está-se nas tintas para portugal.
Porquê?

Se o Sr Bastonário estivesse realmente interessado no progresso, teria de fazer o seu raciocinio com determinados conceitos bem presentes:
a) o país, bem ou mal (na minha opinião foi bastante mal), optou desde há muitos anos pelo transporte rodoviário. Foi desmantelando e desinvestindo sistematicamente nas linhas, no equipamento circulante, nas estações, etc. Ao mesmo tempo em que gastava os 70% de fundos europeus para o sector dos transportes em estradas, ao ponto de termos hoje as melhores da Europa. Portanto decidimos ter estradas boas.

b) todos sabemos que quem decide o rumo que o país deve seguir, são os governos e os seus elementos e também todos sabemos das ligações "perigosas" do poder político aos lóbis, que leva a que quase sempre as decisões que são tomadas não sejam as melhores para o país mas antes as melhores para quem as "encomendou". Neste esquema "sujo" é aceite por toda a gente que as obras públicas são o grande mercado e que as respectivas empresas estão sempre no topo da pirâmide do poder. Falando de empresas de construção de obras públicas e como elas não existem sem pessoas, temos de falar objectivamente na classe dos Engenheiros que são na verdade quem vive da prosperidade dessas empresas. Ora recordo quem quem falou ao DN foi o bastonário da Ordem dos Engenheiros.
Portanto quem decidiu ter estradas boas, foram as empresas que as iam construir.

Em resumo podemos afirmar que durante 20 anos, os Engenheiros deste país decidiram que deviamos gastar 70% do dinheiro destinado ao sector dos transportes, a construir estradas.
Em 2008 aparece nos jornais um senhor a criticar essa opção (também critica os 10 estádios do euro 2004! dizendo que deviam ter sido menos), envolto na candura de quem chegou hoje ao país, após uma viagem de 20 anos pelo cosmos, e descartando a responsabilidade que a sua classe teve nessas decisões.
É cómico. Para ele, o poder político é livre e independente, não sofrendo influências de lóbis ou grupos de pressão. Como disse antes o Senhor Bastonário deve ter chegado hoje ao país.

Na Lusitânia, se algum dia chegassemos à conclusão que tinhamos errado numa decisão estratégica deste tipo, a palavra chave teria de ser: RENTABILIZAR.
O país tem de rentabilizar ao máximo a opção que tomou e não voltar-se para trás e gastar de novo biliões de euros na criação de toda uma nova rede de transportes, alternativos aos triliões que já gastou na outra alternativa.
Por vezes (e creio que esta é uma delas) é preferivel assumir as opções menos felizes e seguir em frente, em vez de fazer como as crianças que brincam com os Legos e que quando se aborrecem podem sempre destruir as construções que fizeram e começar outra nova.

Na realidade, o que o Senhor Bastonário mostrou na entrevista que deu ao DN é que a classe dos Engenheiros continua atenta ao mercado e que chegou à conclusão que está na hora de desviar os euros da EU, que pingavam no bolso direito, para o bolso esquerdo. Custos elevados para o erário público?, Interesse Nacional? isso é noutro filme...

quarta-feira, junho 04, 2008

soluções rápidas para os problemas mais actuais

Gasolinas caras?
- Simples: 1. permitam que se criem empresas distribuidoras de produtos refinados que tenham possibilidade de negociar (leia-se comprar) o produto directamente em qualquer refinaria europeia. Caso a primeira medida não seja suficiente: 2. Crie-se ao nível da UE um imposto único europeu sobre produtos petrolíferos, que será para uso exclusivo no financiamento de projectos de investigação de novas e sustentadas formas de produção de energia.

Equilibrio das contas públicas?
- Utilizem os 12 mil milhões de euros que vai custar o TGV (e se for necessário e possível, cancelem também o aeroporto) para negociar com os funcionários públicos que estão a mais, a respectiva rescisão do contrato. Já alguem sugeriu a venda das reservas nacionais de ouro para o mesmo efeito, mas julgo que o TGV constituirá um passivo muito maior para o país, pelo que numa medida só, o Estado poupava na despesa dita rígida (funcionários a mais) e ao mesmo tempo evitava o buraco que mais este elefante branco vai representar nos cofres do Estado. (o que não é rentável dá sempre prejuizo).

quarta-feira, abril 16, 2008

as grilhetas

Em portugal vivemos rodeados de grilhetas ao desenvolvimento. Particularmente fortes no que diz respeito às possibilidades desse desenvolvimento poder ser feito à margem dos interesses económicos que dominam o país de Norte a Sul.
No que ao ambiente interessa, essas grilhetas têm por vezes a necessidade de ser remodeladas, para se irem adaptando às novas regras que nos chegam da União Europeia.
Recentemente uma dessas regras (A Directiva Quadro da Água) atirou-nos com nova instrução: a gestão dos recursos hídricos tem de ser realizada por intermédio de órgãos próprios, que sejam capazes de os gerir autonomamente e defendendo o uso racional do recurso água. Em portugal chamaram a estes organismos - ARH, Administrações de Região Hidrográfica.
Parte desta gestão prende-se com as utilizações da água, que a nova Directiva passou a chamar, e bem, de pressões. Ora poder arbitrar que se deve utilizar água para uns fins e não para outros gerou na cabeça de quem realmente manda no país, um sinal de alerta! - "Temos que ter cuidado na transposição dessa ideia porque podemos ser prejudicados".
Foi então accionado o plano a que eu chamo "Humphrey" em homenagem a um personagem notável de uma série antiga da BBC. Em que consiste este plano?
Basicamente trata-se de criar essa estrutura alicerçada numa intrincada dependência dos seus próprios objectos de regulação, ou seja dos utilizadores da água. Seja através de estrangulamentos financeiros, seja por falta de meios técnicos para desempenhar bem as suas funções o que interessa é que essa nova entidade não venha perturbar o equilíbrio instituído.

Tem sido este o enquadramento de todos os organismos portugueses que tratam das coisas do ambiente. Sejam eles o ex.ICN, ou o ICNB, o INAG e as ex.DRAOT, o ex.IA ou a APA.
Em todos eles se aplicou a grilheta dos meios. Sem meios não chateiam ninguém.
Com as recém criadas ARH, a asfixia financeira está a ser tão forte que todas as atenções se voltaram para o chamado Regime Económico e Financeiro relativo ao uso da água. Ou seja as instituições só sobrevivem se obtiverem receita e só têm receita de autorizarem usos na água.
Um dos usos que paga mais são as hidroeléctricas (o outro são as empresas que fornecem água às autarquias ou equiparadas), pelo que a tentação de autorizar tudo, vai ser muito grande.
Mas o que pode uma instituição pública com meia dúzia de técnicos e sem dinheiro, fazer contra os superiores interesses de uma PSI20 na construção uma barragem em qualquer rio?

Portugal sempre foi gerido a partir dos gabinetes de uma dúzia de empresas e por muito que a União Europeia queira e insista, os governos que vão aparecendo, mais não fazem que cumprir as ordens dessas empresas, que os premeiam no fim dos mandatos, contratando quem fez um bom serviço.
Se somarmos isto, à crónica cultura de monopólios que herdamos do Dr. Salazar, temos o quadro completo, de um país adiado, agrilhoado aos interesses de uns poucos que o gerem ao sabor dos relatórios de contas, e que prestam contas apenas aos seus accionistas.
Por causa disto é que a electricidade, os combustíveis, as telecomunicações, e quase todos os outros factores de produção são mais caros em portugal do que nos outros países europeus. Portugal não é competitivo, não tem boa produtividade devido a isto.
A treta que nos impingem todas as noites acerca do peso da administração pública, o peso dos salários, a baixa produtividade do trabalhador português, serve apenas para que se desvie a atenção deste status quo.
Tudo isto encaixa com a lógica precisa de um puzzle.

Já li em vários lugares que este país, na realidade pode ser dividido em 2. O país do PSI20 e o resto, que mais não serve senão para fornecer recursos (leia-se, naturais e humanos) para o Grande Esquema de desenvolvimento que essas empresas traçaram.