terça-feira, outubro 24, 2006

OPA sobre a PT

Tenho acompanhado com interesse este movimento de mercado que envolve 2 das mais representativas empresas do cenário português.
Parte deste acompanhamento tenho-o realizado lendo bastantes opiniões que cidadãos normais e anónimos vão deixando em diversos fóruns de opinião pública.
Foi de entre esses comentários que formulei a minha percepção de que os portugueses (pelo menos aqueles que se dão ao trabalho de escrever as suas opiniões) são de uma maneira geral bastante hostis a esta OPA. Os comentários mais inflamados e incisivos fazem-se quase sempre contra a Sonae e defendendo a PT. Aliás na outra OPA também é maioritária a defesa do BPI contra o BCP.
Tento descobrir porque assim será!

Não tenho da PT a ideia de uma empresa particularmente competente. Nem ela nem a sua "prima", a PT multimedia.
É público que, por exemplo, a TVcabo (da PT Multimédia) é desde há uns anos a empresa com mais reclamações por parte dos seus cliente e ex-clientes.
O serviço de ISP fornecido pelo Sapo, é constantemente classificado como um dos mais caros da Europa, sem que esse preço justifique um serviço de superior qualidade.
Não me parecem pois que sejam pessoas que estejam a defender um produto e/ou empresa de qualidade. Também não acredito que sejam empregados da PT com medo de perder o seu emprego ou accionistas tentar influênciar o mercado :-)
Pode ser que sejam inimigos do Belmiro, ou invejosos. É também uma possibilidade.

O que me parece a mim claro nesta operação é que tanto as opiniões que tenho lido nos forum como nos diversos artigos de fundo escritos por celebres pensadores, esquecem uma questão fundamental: Esta operação envolve o mercado da rede fixa telefónica (voz e banda larga), o mercado da TV por assinatura (também com banda larga), o mercado da rede móvel. E vai haver concentração num para que possa haver separação em dois. Com a vantagem adicional de o mercado grossista no cobre, passar a ser também autónomo.

Constantemente vejo criticar a concentração nos móveis e considerá-la totalmente inaceitável. Só estão a ver uma face da operação. E mesmo essa face está a ser mal interpretada. Eu condenaria a redução de 3 para 2 operadores, se e só se a situação tripartida de hoje, estivesse a ser benéfica para quem consome o produto. Quem é que nas condições que vigoram hoje pode classificar o mercado móvel português como vivendo em saudável concorrência?
As tarifas são praticamente iguais, os preços dos equipamentos são iguais, as soluções de banda larga móvel são iguais... Onde está a diversidade? E não estou a falar de produtos já com algum tempo de mercado que acabam por sofrer a erosão natural e tendem a aproximar-se nos preços. Estou a falar em preços de lançamento!!! As três operadores móveis lançam produtos novos todas ao mesmo preço! Em cartel? Será?

Para mim esta questão da redução de operadores móveis não irá em nada prejudicar os consumidores pelo simples facto de com três a concorrência já ter falecido há muito tempo.
Restam então os dois outros mercados completamente dominados pela PT, o fixo (cobre) e o fixo (cabo).
Como é óbvio, também aqui não existe concorrência. E neste caso nunca chegou a existir.
A Sapo e a Netcabo há muito adoptaram a política da não interferência no mercado de cada uma e sistematicamente lançam produtos exactamente iguais onde apenas o suporte é diferente.
Com o triple pay à porta, e não acontecendo a OPA, estou certo que iriamos a ter mais do mesmo mas desta vez o próprio objecto de consumo iria ser o mesmo (tv, telefone e internet). Um sistema seria Sapo e outro TVcabo e esta iria ser a única diferença entre ambos. Os preços iriam continuar a ser elevados porque nem uma nem a outra empresa estariam interessados em baixar e todos continuariamos a ser explorados como sempre fomos.

Porquê então tanta animosidade?
Vou continuar a investigar.
Esta OPA tem ainda outro beneficio, a separação do negócio grossista da PT.

sexta-feira, outubro 20, 2006

IKEA em Paços de Ferreira (actualização)


Afinal, o plano que a CM de Paços de Ferreira, pretende executar, tem uma dimensão superior ao que está a ser divulgado.
O projecto IKEA vai servir apenas de cereja no topo do bolo.

A CM pretende, com a revisão em curso do seu PDM, destacar da sua já diminuta área florestal (já representa apenas 13% do concelho), mais 53,5 ha para construir um parque industrial em frente à fábrica da IKEA.
A configuração do plano é a que está representada na figura.

Está já em execução a chamada variante à ER 207, que irá fornecer os acessos às industrias (representada pela linha amarela).
Toda a área envolvida pelo trapézio vermelho está já suspensa do PDM, seguindo o mesmo processo que envolveu a fábrica da IKEA e que culminará na destruição de um total de 53,5 ha de área natural para dar lugar a mais ocupação de betão e alcatrão.

Assim vai o País. Lentamente a população vai envelhecendo, em breve entrará em diminuição, e no entanto, o País cada vez parece mais pequeno, face ao avanço inexorável dos processos de expansão urbana.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Processo - Termolan



Tudo aponta para que o autor do último crime ambiental no rio Ave (15/10/2006) tenha sido a empresa Termolan, de Santo Tirso.
Trata-se de uma industria que fabrica lã de rocha a partir de rochas basálticas e já não é a primeira vez que esta unidade procede desta maneira irresponsável.
Vamos aguardar pelas consequências legais.

quinta-feira, outubro 12, 2006

como se negoceia o país

Imaginem uma empresa. Uma empresa multinacional do ramo das grandes superficies comerciais. Imaginem que essa empresa quer ampliar as suas já hiper-dimensões mas que por azar a ampliação pretendida encontra pelo caminho uma chatice chamada RAN (Reserva Agrícola Nacional).
Imaginem a seguir, uma Câmara Municipal (CM). Uma CM do Norte do País. Imaginem que a essa CM interessa como é até legitimo, criar todas as condições para o desenvolvimento sócio-económico do concelho (sempre dentro da legalidade, acrescento eu). Imaginem ainda que essa CM tem ainda por resolver (apesar da chuva de fundos comunitários de que dispôs para o efeito) o problema sempre "chato" do saneamento básico de uma franja muito consideravel do concelho e que por um feliz acaso a freguesia onde a empresa pretende ampliar é precisamente uma dessas zonas carenciadas.

Estas são as bases e agora há que negociar favores e interesses.
Eis o acordo a que chegaram:
A CM desbloqueia a chatice da RAN, movendo as necessárias influências.
A empresa constroi, sob a frágil capa de um Estudo de Impacte Ambiental mal amanhado, uma conduta subterrânea de 1,5m de diâmetro ao longo de 2,0 Km, seguida de um exutor submarino de 300m de comprimento.
A esta conduta atribuem-se como funções "oficiais", o transporte de água da chuva que por efeito da impermeabilização do solo, fruto da ampliação, não poderá ser conduzida ao Ribeiro que passa na proximidade, devido a este não ter capacidade para escoar a água em excesso (estas últimas 10 palavras são dos Engenheiros da própria CM).
Este Ribeiro, está tão mal tratado, e tão degradado que as análises à sua água efectuadas no âmbito do EIA, revelaram níveis de contaminação superiores às normas de descarga de águas residuais. Traduzindo, se o rio fosse um esgoto de uma empresa, pagava multa por ser tão mau...

Algo no entanto não correu tão bem como as entidades envolvidas esperavam, e foi possivel ler no EIA inicial, que a consultora que o elaborou, considerava dois cenários possíveis para o escoamento pluvial:
a) intervencionar o Ribeiro, re-naturalizando-o nos troços em que ele foi obstruído por construções nas suas margens e requalificá-lo sob o ponto de vista ambiental tirando inclusivé partido do novo caudal para melhorar as suas condições de suporte à vida.
b) construir a tal conduta que levará as águas em excesso até à praia mais próxima.

Naturalmente que a CM tudo fez para afundar a hipotese a) e louvar a solução b).

Eis as questões que tudo isto levanta:

1. Quem e com que intenções é que se constroi uma conduta com 1,5m de diâmetro e de 2,0 Km de extensão e mais um exutor submarino de 300m de comprimento só para descarregar no mar águas pluviais? águas das chuvas? águas tecnicamente limpas?

2. Como a resposta à pergunta anterior parece óbvia, e portanto não devem ser só águas da chuva que a conduta escoará, surge uma nova questão pertinente. A quem irá a autarquia pedir responsabilidades, pela má qualidade das águas balneares do seu concelho, quando é ela própria que a desqualifica, cada vez mais?

3. Porque é que isto não foi esclarecido durante as longas fases do processo de avaliação de impacte ambiental?

4. Porque é que sempre que aparece uma oportunidade de valorizar algo que está degradado, surgem sempre obstáculos inultrapassáveis que viabilizam soluções alternativas, mais de feição a obras de engenharia pesada, com custos económicos mais gravosos e sempre de pior valor ambiental? Será falta de know-how? Será o lobby da construção civil a funcionar?


Na minha Lusitânia, o senhor presidente desta autarquia já há muito, muito tempo teria sido chamado a assumir as suas responsabilidades pelo actual estado da infraestrutura de saneamento básico do concelho. Já há muito tinha sido chamado a esclarecer porque é que as suas zonas costeiras e os seus rios e ribeiros têm tão má qualidade. E apuradas as reais intenções de mais esta situação pouco clara, teria sobre si a dura tarefa de redigir a sua cartinha de demissão.
Relativamente à empresa, pouco há a fazer porque apenas tentou negociar a sua prosperidade defendendo os seus interesses. Apenas poderia ser equacionada a inviabilização da ampliação para servir de exemplo a futuros autarcas destemidos.

quarta-feira, outubro 04, 2006

países pequenos, bom ou mau?

Em Portugal vivemos permanentemente a chorar pelo nosso copo vazio e raramente se encaram os acontecimentos sob a perspectiva do copo cheio.

Nunca ou quase nunca se vêm debates nos foruns da moda, sobre as vantagens que o País tem em ser como é. Nunca se exploram as potencialidades que temos, e em alternativa, não parámos de olhar para todos os outros países com um misto de inveja e auto-flagelação. É este o destino de Portugal? Ser para sempre um país de invejosos paralíticos?


Portugal é um país pequeno. Esta verdade, tão frequentemente evocada para embranquecer derrotas e frustações, pode ser uma virtude.

  • Por sermos pequenos pode tornar-se mais fácil atingir por exemplo um grau elevado de auto-suficiencia energética.
  • Tendo pouca população é uma das condições necessárias para que os sistemas de transporte possam caminhar num sentido da eficiencia.
  • A dimensão também pode favorecer a comunicação entre os centros de decisão e os cidadãos, podendo torna-la mais directa do que noutros países com uma população mais densa e um território mais amplo.
  • A questão da segurança é também favorecida pelo facto do país ser de pequena dimensão e ter fronteira com um só país – a Espanha.

Muitos outros assuntos relevantes para o bem-estar e desenvolvimento de Portugal podem ser tratados de forma mais eficaz se jogarmos com a dimensão em nosso favor em vez de estarmos constantemente da lamentar a falta de peso na FIFA, na ONU, na UE e em praticamente todos os palcos internacionais, dando uma imagem de cidadãos mentecaptos deste planeta.

Retomando um pouco o assunto energético, tão importante nos tempos que correm, gostava de deixar aqui uma pergunta: Já alguém pensou bem a importância que irá(ão) ter o(s) primeiro(s) país(es) que se tornar(em) livre(s) do petróleo como fonte de produção de energia?

Considero esse “pódio” como um equivalente ao escalonamento que foi feito com a Era dos Descobrimentos. A visão que teve D. João I ao lançar o país na aventura gloriosa era fundamental que reinasse na cabeça de algum governante nestes tempos que correm. Um que definitivamente criasse um verdadeiro designio Nacional relevante (não um festival de vaidades como o Euro2004 ou a EXPO98). Um que seguisse o exemplo do JFK quando instigou os habitantes dos EUA para alcançarem a Lua.

Já imaginaram bem a vantagem competitiva que Portugal teria se se libertasse das amarras geo-políticas e estratégicas que o petróleo hoje obriga? Poder dizer não às intervenções dos EUA como zeladores do nosso petróleo, poder proíbir a passagem de petroleiros nas águas da nossa ZEE, poder cumprir os Protocolos de Quioto, de Joanesburgo, Istambul ou de Caracas e os mais actos de propaganda que os EUA quisessem organizar...

Já não falando na inovação tecnológica que um objectivo deste tipo traria por força e por si só ao país.


Na Lusitânia serão estes os alicerces do País!

Seremos independentes, mas verdadeiramente independentes!