terça-feira, fevereiro 26, 2013

O estranho caso da deflação nos países de Programa

Antes de começar, um elogio: adoro esta expressão que o nosso bem humorado ministro das finanças, utiliza para ser referir aos países sob intervenção da Troika: são os países de programa. É simplesmente fabuloso e passou quase despercebido nos Media nacionais. Ele chama países prostitutas a todos e ninguém percebeu.
Passando à frente, vou tentar expor aqui uma situação que me causa estranheza há muito tempo.
Em termos macro-económicos o processo que está a ser seguido nos tais países de programa (PP) é da criação artificial de um fenómeno de Deflação, através da aplicação de austeridade, que irá com o tempo produzir três objectivos: 
1. Aumentar a competitividade dos PP.
2. Equilibrar o deficit do sector público. 
3. Criar excedente na balança comercial externa.

Vários economistas de renome têm acrescentado e na minha modesta opinião, com toda a razão, que este tipo de receita só atinge os resultados se dentro do espaço económico onde os PP se inserem, ou seja os seus clientes das exportações, se aplicar a receita inversa, ou seja se for promovido um aumento da inflação. Dizem eles que os países do Norte, deviam estar a aquecer a sua economia para ajudar a do Sul a arrefecer. Este não é o assunto principal do meu texto por isso vou deixá-lo por aqui.
Voltemos à Deflação dos PP.
Dos três objectivos descritos em cima, apenas um parece estar a ser alcançado, o terceiro. Geralmente é assim que acontece. Mesmo esse é sempre atingido, numa primeira fase à custa da quebra mais imediata das importações. O lado saudável que surgirá quando o volume das exportações subir significativamente, é infelizmente um assunto que, na falta de uma descoberta de petróleo, ou ouro e diamantes, demorará umas décadas a atingir.
O objectivo número 1 está a ser seguido à custa de um só parâmetro: os salários. Os governos já se esqueceram que a competitividade e a produtividade têm vários parâmetros que a determinam, e se fizermos um esforço de memória, podemos verificar que o partido do Arco (PS PSD e CDS) apenas mexem num. Todos os outros são imutáveis, intocáveis, diria mesmo sagrados. Esta aparente desatenção vai fazer com que a competitividade não aumente, ou aumente de forma insignificante para os objectivos globais pretendidos.
Finalmente o deficit. Como todos já aprendemos a métrica que traduz o endividamento de um país é a razão entre deficit público e o PIB. O PIB é uma estatística que traduz a a riqueza produzida no país. A riqueza do país não é só o que o país exporta. É tudo o que o país vende, interna e externamente. Quando o país deliberadamente empobrece os consumidores, o PIB diminui e se o PIB diminui, o endividamento do país, só diminuirá se a redução do deficit cobrir essa queda.
Depois desta introdução chegamos ao que me trouxe cá.
O governo ainda não percebeu, não quer perceber ou não quer que se saiba, que se tivesse coragem para tomar medidas que deflacionassem os PREÇOS de bens de serviços, ao mesmo tempo que deflaciona os SALÁRIOS, o consumo irá manter-se nos mesmos níveis, o PIB não quebraria e logo o deficit diminuía. 
Mais ainda, uma situação deste tipo, é sustentável ao longo do tempo e portanto é o que se costuma batizar por REFORMA ESTRUTURAL.
É esta receita que o país precisa para sobreviver.

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