sexta-feira, junho 10, 2005

os 2 Metros

Temos vindo a assistir a sucessivos processos polémicos e extemporãneos de discussão pública e acalorada, sobre os trajectos que o metro do porto deve ou não percorrer. Primeiro foi o metro na Avenida da Boavista e agora o do metro no hospital de São João. O caso da Boavista deu-me muito que pensar até descobrir os verdadeiros motivos da parte que, a meu ver, queria impor a pior solução.
Foi preciso ler um parágrafo, escondido num longo artigo do público para perceber os verdadeiros contornos da tramoia que envolve a súbita colocação do metro, a circular ao longo da avenida. É simples e conta-se telegraficamente. A Imoloc tem direitos de construção nos terrenos da parte poente do parque da cidade. O presidente da câmara foi eleito prometendo à cidade que jamais deixaria construir aí. Cumpriu o prometido mas ficou a faltar o graveto da indemnizacão à empresa. De repente alguém se lembra de uma solução aparentemente genial. Faz-se o metro passar pela Boavista, com esse pretexto, constrói-se um novo viaduto sobre o parque e para viabilizar esse viaduto temos de usar os terrenos da Imoloc. Resumindo a empresa metro do porto, usando o dinheiro de Bruxelas resolve o problema da câmara e do presidente, a empresa fica satisfeita porque recebe o dinheiro e quem se lixa é o parque e quem gosta dele.
Como no início do caso esteve sempre presente a salvação do parque das garras do imobiliário, chega-se a uma solução do tipo o mal menor, trocando habitações de luxo por um maravilhoso viaduto desenhado pelo grande siza vieira, mas que apesar disso não deixará de violar o espaço aéreo e visual da maior área verde da cidade. Esta até agora é a melhor explicação para tanta pressa em decidir um aborto chamado viaduto.Pode nem ser o verdadeiro motivo mas para mim é o único que faz sentido até agora.
Nas últimas semanas tem vindo a aumentar de volume um novo processo, o da passagem do metro no hospital de São João. O que está planeado e aprovado é que ele passe à superfície, no entanto alguns iluminados e atrasados (que só agora olharam para o projecto) pretendem a todo custo enterrar o metro neste troço.
Os pretextos, à semelhança do caso Boavista, são já em número considerável, a segurança dos peões, o caos do trânsito, a perda de lugares de estacionamento, o acesso das ambulâncias e outros. No entanto, e tb à semelhança do caso Boavista, ainda nenhum fez soar na minha cabeça o clique da verdade.
A segurança dos peões cai com a estatística, pois até agora com 2 anos de vida não houve 1 único acidente grave que envolvesse peões e as carruagens do metro. Aliás basta sair do São João em direção ao IPO e atravessar na fantástica passadeira que lá foi colocada para perceber qual é a real ameaça à integridade física dos peões.
O 2º argumento, o do caos, só pode enganar quem não conhece a zona do causa. Se houver um ranking de zonas caóticas na cidade do porto esta tem de aparecer no top 3 e que eu saiba nunca lá existiu nada mais que transportes rodoviários. Aliás para se diminuir o caos que sempre existiu na zona só existe uma solução, retirar o máximo número de carros particulares que para lá afluem diariamente. Isso só se consegue com um transporte público eficaz, prático e regular.
Com o tempo o verdadeiro argumento irá aparecer. Provavelmente envolve questões mais pequenas em dimensão de interesse público e mais fortes em interesses sectoriais. Talvez imobiliários, talvez pessoais ou de grupos com interesses comuns.
Conhecendo o país e a cidade posso para já adivinhar com segurança que dificilmente serão os peões, os utentes do hospital que estão a motivar esta feroz negociação. Só tenho de esperar mais um tempo e ler com atenção todos os parágrafos do público.

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