quinta-feira, agosto 29, 2024

Porto - a cidade sempre adiada

Em conversas com amigos costumo dizer que a única maneira das cidades portuguesas evoluírem para um novo patamar de mobilidade, bem estar e sustentabilidade, é criar legislação que obrigue que nas próximas 2 eleições autárquicas apenas possam concorrer cidadãos espanhóis que sejam ou tenham sido Alcaides de cidades espanholas. 
Quem achar que é uma ideia estupida, só tem de viajar até uma qualquer cidade do país vizinho e comparar o dia-a-dia dessa cidade com a cidade onde reside. Dou alguns exemplos que conheço bem: Pontevedra, Oviedo, Corunha, Santiago de Compostela, Lugo ou Salamanca. Depois de fazerem essa visita construam a vossa opinião.

No caso do Porto, posso acrescentar uma nova reflexão.
Como todos sabem a cidade atravessa um 3º ciclo de obras brutais e potencialmente estruturantes. Em 2001 tivemos o evento Cidade Europeia da Cultura, em 2004/5 as obras de instalação do Metro, e agora as obras de ampliação desta rede.
Em todos eles assistimos à recusa obstinada dos nossos autarcas em conceber um desenho de cidade que recusasse ao automóvel o papel principal. Tudo o que se passa nesta cidade é pensado para o transporte individual em veículos de 4 rodas. 
Dou apenas um exemplo. As obras que decorrem no centro histórico (Praça da Liberdade, Largo dos Loios, Clérigos, e Estação de S. Bento) eram a oportunidade mais fantástica para de uma vez por todas, acabar com os automóveis, nesse espaço. Até tinham outra vantagem, o custo das obras seriam bastante inferior ao que se pagou por elas. As obras, serviriam de desculpa para os mais teimosos e o tempo que elas demoram iriam inevitavelmente criar novos hábitos nas pessoas. Quando terminassem as obras é garantido que os que atualmente passam pedaços de vida parados nos carros a buzinar e a poluir, nem se iriam mais lembrar que aquela zona em tempos era assim.

É com consternação que vejo os nossos autarcas a insistirem ano a após ano, neste conceito de cidade, agarrados à sua ultrapassada visão de mobilidade. Nos discursos não faltam as palavras bonitas mas no terreno não há nada de novo. Nunca há nada de novo. Fica sempre tudo na mesa de reuniões.

Resta-nos esperar pelos Alcaides.