domingo, novembro 20, 2005

dia mundial em memória das vítimas da estrada

Comemorou-se hoje este dia. Tristemente, portugal lidera as estatísticas europeias em número de mortos, em número de feridos e em número de acidentes. O debate q se tem feito sobre este assunto gira em volta das causas quase sobrenaturais q fazem de portugal o líder, e entre as mais badaladas surgem o civismo, ou a falta dele, as más estradas, o sangue latino, e o apetite por bebidas alcoólicas e outros produtos dopantes.
O facto de portugal ter optado por previligiar o transporte rodoviário em deterimento do ferroviário, raramente aparece no debate. E qd actualmente se discutem investimentos avultados no tgv, parece ser boa altura juntar as 2 coisas e reflectir um pouco neste assunto.
Foi em plena era do "progresso" cavaquista q os políticos elaboraram o famoso plano rodoviário nacional, posteriormente revisto e melhorado pelo pântano guterrista. Em ambos os momentos, o objectivo a atingir permaneceu intocado: dotar o país da melhor rede rodoviária da europa, ligando todas as capitais de distrito por auto-estrada. Um projecto grandioso,capaz de fazer os parceiros europeus roerem-se de inveja.
Estou convencido q tudo foi estudado ao mais ínfimo pormenor, e foram colocados nos 2 pratos da balança, os custos que esta opção teria em termos de sinistralidade, por oposição ao grande contributo destas obras no desenvolvimento do sector da construção civil e obras públicas. Teria sido o peso deste último factor que inviabilizou a hipótese de ligar as mesmas capitais de distrito por uma moderna e eficiente rede de comboios.
É sabido q a construção de uma via férrea é mt mais rápida, mt mais barata e mt mais light em termos de mão de obra do que uma bela auto-estrada. Podiamos tb avaliar as 2 opções em termos de energia, emissões e impactes no ambiente, mas todos esses factores juntos não chegaram para dobrar o poderoso lobi das estradas e produtos associados.
Foram todas estas reflexões e decisões, q levaram a q nesta altura do desenvolvimento do país, em pleno ano de 2005, e numa altura em que o plano rodoviário já deu origem a milhares de km de asfalto, a simples ideia de se construir um tgv me faz ficar perplexo com esta maneira de planear o futuro de um país.
O momento de planear, já passou. Foi à décadas atrás. E bem ou mal, pra mim mt mal, foi decidido q portugal escolheria o caminho rodoviário, a solução do asfalto. E essa decisão foi tomada em plena consciência e com todas as consequências explicadas em estudos e pareces.
Porque haveremos agora de fingir que afinal não se decidiu nada e que podemos gastar mais milhões num tgv? Qual é o país do mundo onde se gasta tudo o q existe e neste caso já o que não existe, em sistemas de transporte? Estará na cabeça dos decisores deste país que o progresso de um povo se esgota construindo sistemas de transporte? E a seguir ao tgv o que teremos? Canais aquáticos que liguem tudo a tudo mas desta vez por jet-ski? E a seguir, de avião?
A verdade é que o ciclo do asfalto parece estar a chegar ao fim. A maior parte das estradas estão prontas ou já projectadas e o lobi reparou que tem de começar a preparar um novo objecto de desejo. E se tiver q ser o tgv que seja. O lobi do automóvel poderia não ficar mt contente, mas como eles já perceberam q este projecto de comboio nunca vai ser competição aos bolides q comercializam, alimentam e cuidam, tb deram a sua anuência.
O preço que o país está a pagar em sofrimento e em vidas humanas, foi o preço q os governos já tinham conhecimento qd decidiram o futuro do país. Certamente que sabiam o q iria acontecer, mas os proveitos foram considerados superiores aos prejuízos. O que não é justo é que peçam agora ao povo português que para além do sangue e do sofrimento, contribuam outra vez com mais milhões para se fingir q nada disto foi planeado e pensado e que ainda vamos a tempo de abraçar o novo paradigma da modernidade, o tgv.
Na nova lusitânia, os milhões q estão já reservados para o tgv e para o aeroporto da ota, seriam investidos da seguinte forma:
1. ligação ferroviária de alta velocidade, dedicada ao transporte de mercadorias entre sines e espanha e entre aveiro e espanha.
2. Modernização de todos os portos marítimos com potencial de crescimento.
3. Finalização de uma vez por todas da ligação ferroviária da linha do norte em comboio pendular, prolongando a linha até vigo.
4. Investimento forte e decisivo em investigação e desenvolvimento no sector da energia das ondas e na energia solar, incentivando o país a tornar-se auto-suficiente em termos energéticos, ao mesmo tempo em que se tornaria um forte player mundial nas tecnologias deste sector.
Todos eles elementos de investimento que dotariam o país de activos geradores de riqueza, de um rumo certo e de um sinal claro que o país não anda ao sabor de lobis nem de vontades inconfessaveis.

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