sexta-feira, agosto 05, 2005

Incêndios - até quando o mesmo filme?

Não sou especialista em ordenamento ou planeamento territorial. Também não sou perito em engenharia florestal, nem sequer bombeiro, nem construtor civil, nem politico… Sou um simples cidadão deste país, que tenta estar informado, no meio desta desinformação generalizada….

Custa-me, ano após ano ver o mesmo filme. Sempre a mesma história! Em 2003 houve grandes incêndios em todo o território. Na sequência desse desastre ambiental/social, e do normal deitar as culpas nos “outros” verificou-se uma mobilização generalizada, com enormes recolhas de fundos (inclusive verbas comunitárias de Fundos de Solidariedade– € 48,5 milhões?) para compensar as perdas, mas também, pensava eu, começar de vez a implementar uma politica de prevenção. Os resultados estão à vista, primeiro em 2004 e agora em 2005, depois de muitos meses sem chover, a história repete-se.

Este ano, as coisas até pareciam estar controladas. Não sei se a cobertura jornalística mais suave, mais sensata, teve alguma relação com o facto de o governo de José Sócrates ter tomado posse à pouco tempo. O facto é que, com os primeiros incêndios de 2005, as reportagens mostradas na televisão, incidiam quase sempre em centros de comando, onde as coisas pareciam efectivamente controladas, com conjugação de esforços de bombeiros, protecção civil e INEM, entre outros.

No entanto, nos últimos meses, as coisas voltaram ao descontrolo habitual. As reportagens no meio das chamas. Os habitantes a fazer as limpezas de última hora. Pessoas a correr e a gritar. A chorar, a ver as chamas consumir tudo aquilo que haviam juntado ao longo de décadas de trabalho.

Nos últimos dias, já estava a estranhar o facto de ainda ninguém a nível governamental ter dado a cara. Talvez os ministros estivessem todos de férias, talvez José Sócrates não tenha “rede de telemóvel” no Quénia, onde está a passar férias. Mas hoje o seu substituto durante este período de ausência, António Costa, fez questão de aparecer. Apareceu, mas deixou transparecer, pelo menos foi a minha impressão, uma imagem de desorientação. Como é que se chega a esta situação? As principais cidades estiveram e continuam cobertas por um tecto de fumo, de poluição, auto-estradas cortadas, linhas de comboio cortadas… populações em pânico… No seu “reconfortante discurso” disse-nos que não é por falta de meios aéreos, nem de descoordenação nos poucos mas esforçados meios terrestres, que as coisas chegam a este ponto, não, é por causa do intenso fumo que não permite actuar como seria desejável… estranhas coisas estas, incêndios que provocam fumo….

Também apelou mais uma vez à mobilização das populações, para actuarem na prevenção e combate dos incêndios. Mas estas palavras já vêm tarde, isto porque a população já se tem mobilizado. Quantas casas, quantos armazéns, quantas propriedades já haviam sido salvas sem auxílio de bombeiros? Há no entanto uma coisa que não pode constantemente continuar a falhar. As palavras de orientação têm também que existir fora destas épocas! A população tem, e deve ser mobilizada e guiada no sentido de implementar localmente políticas de prevenção, políticas de ordenamento, de reflorestação! Continuamos à espera de um rumo!

1 comentário:

Pedro Moura disse...

Gostei particularmente da escolha da fotografia do Costa...
Uma mescla de desorientação e de enfado, transparecem no rosto do político, como que a dizer: " que chatice, um tempo tão bom na praia e eu ando p'ra qui a apagar fogachos..."